Qual órgão humano é chamado de cemitério de células sanguíneas e por quê? - Serguei Podkovalnikov
Neste artigo, tentaremos esclarecer onde as células sanguíneas humanas são formadas e onde são destruídas.
Nosso corpo possui um grande número de células. De acordo com as estimativas mais conservadoras, são cerca de 100 trilhões delas. Imagine só que todos os dias bilhões de novas células são formadas, assim como bilhões deixam de existir.
Entre todas as células, as células sanguíneas são as que fazem o papel mais importante. Nosso sangue é responsável por muitas funções vitais. Ele, por exemplo, transporta oxigênio dos pulmões para os tecidos e órgãos, enquanto leva o dióxido de carbono na direção oposta; esta é a função respiratória.
O sangue também transporta nutrientes do trato gastrointestinal para as células e tecidos do nosso corpo, fornecendo-lhes energia. O sangue transporta substâncias biologicamente ativas (hormônios) desde o lugar onde são formadas, nas glândulas, até os órgãos-alvo.
O sangue regula a temperatura corporal e participa da eliminação de resíduos, como a uréia e o ácido úrico, do corpo. A função protetora, cuja base são os anticorpos, também está relacionada com o sangue. E não podemos deixar de falar sobre a função homeostática, que é a manutenção constante da composição do ambiente interno do organismo, a qual inclui a linfa e o fluido intersticial.
Em média, o sangue representa de 6 a 8% do peso corporal de um adulto. O volume de sangue no corpo de um homem maduro é de entre 4,9 e 5,6 litros; no de uma mulher é um pouco menor, entre 3,9 e 4,2 litros; no de bebês recém-nascidos é ainda menor, de 200 a 350 mililitros.
Por natureza, o sangue é um tecido conjuntivo líquido que, junto com a linfa e o fluido intersticial, forma o ambiente interno do organismo. Sua estrutura consiste em uma parte líquida, que é o plasma (de 50% a 60%), e os elementos figurados (de 40% a 50%) que nele se encontram. Estes últimos são as células sanguíneas e seus derivados: eritrócitos, leucócitos e plaquetas. A esmagadora maioria de todos os elementos figurados são eritrócitos (glóbulos vermelhos). São os eritrócitos que dão ao nosso sangue uma cor vermelha. São eles que carregam o oxigênio e o dióxido de carbono graças a uma proteína que possuem chamada hemoglobina (contém ferro). No sangue, também existem glóbulos brancos (leucócitos). Eles são os que existem em menor quantidade e são responsáveis por nossas funções protetoras, pois formam a imunidade. As plaquetas (trombócitos) existem em maior quantidade que os leucócitos, mas em menor que os eritrócitos. As plaquetas não são células inteiras, são fragmentos de megacariócitos, que são células progenitoras gigantes.
As plaquetas lembram dezenas de fragmentos de um vaso quebrado, que é o megacariócito. O papel das plaquetas é, no momento necessário, formar um coágulo de sangue (um trombo) e parar um sangramento.
As células sanguíneas humanas são formadas a partir de células-tronco especiais dentro dos ossos na medula óssea vermelha. Mas, além disso, os leucócitos são formados nos gânglios linfáticos, no timo, no baço e nas placas de Peyer do intestino.
Mas onde as células sanguíneas deixam de existir? Os leucócitos morrem nos locais em que colidem com agentes estranhos (bactérias, vírus), muitas vezes formando pus. No caso de reações inflamatórias pronunciadas, eles são destruídos nos gânglios linfáticos e no baço.
As plaquetas encerram seu caminho nos locais de coágulos sanguíneos, onde ocorre um sangramento, e, assim como os leucócitos, também são destruídas no baço.
Os eritrócitos podem ser destruídos nos vasos sanguíneos e na medula óssea vermelha, mas os principais centros de destruição dos eritrócitos que perderam sua função são o fígado e o baço. No baço, os eritrócitos são destruídos através de uma divisão em pedaços (fragmentos) cada vez menores. Isso ocorre por meio da hemólise e da subsequente eritrofagocitose. A eritrofagocitose é basicamente a captura e a digestão dos eritrócitos por células especiais chamadas fagócitos (este é um dos tipos de leucócitos). Quando os eritrócitos são destruídos, forma-se um pigmento biliar, a bilirrubina, que entra no fígado e, após sucessivas transformações, é eliminada do corpo pela urina e as fezes. O ferro que é liberado durante a destruição dos eritrócitos, é usado para construir novas moléculas de hemoglobina.
Por isso, o baço pode ser chamado de "cemitério de células sanguíneas", como dizem cientistas e médicos. Porque é justamente lá que os elementos figurados são destruídos. O baço é como um "cemitério principal" e os locais adicionais são o fígado para os eritrócitos, os locais de inflamação para os leucócitos e os locais de sangramento para as plaquetas. No caso dos leucócitos e das plaquetas, o local de destruição depende diretamente da função que exercem.
Serguei Podkovalnikov, professor de biologia