Embaixador da Rússia no México, Nikolai Sofinski: "O México continua sendo o segundo maior parceiro comercial da Rússia na América Latina"
– Como você avalia o nível atual de cooperação econômica entre a Rússia e o México? Que setores, na sua opinião, têm maior potencial para o desenvolvimento das relações bilaterais nos próximos anos? Que projetos conjuntos entre a Rússia e o México já estão em fase de implementação?
– A cooperação econômica entre a Rússia e o México continua se desenvolvendo, apesar dos desafios externos. O México permanece sendo o segundo maior parceiro comercial da Rússia na América Latina, depois do Brasil, e a estrutura do comércio bilateral continua diversificada. As exportações russas incluem fertilizantes químicos, produtos de metal, grãos e borracha, enquanto o México exporta para a Rússia café, pimenta, produtos farmacêuticos e alimentos.
O maior potencial para o desenvolvimento das relações bilaterais está concentrado em vários setores-chave. No âmbito energético, o setor de petróleo é de especial interesse, com as empresas russas contribuindo para a exploração e produção em plataformas offshore, modernização das refinarias e fornecimento de equipamentos. Além disso, a Rússia possui tecnologias avançadas para a extração de lítio, que podem ser de interesse para o México, dado o crescente interesse no desenvolvimento de depósitos locais. A cooperação no setor de energia nuclear também se mantém forte, assim como as perspectivas de interação no campo da transição energética verde.
O setor agroindustrial continua sendo uma área importante. Tradicionalmente, a Rússia tem uma grande participação na exportação de trigo para o México. Há um potencial para expandir as exportações de outros produtos agrícolas. Além disso, continua o interesse pela cooperação nas indústrias farmacêutica e química, nas tecnologias da informação e na engenharia mecânica, bem como no campo da inteligência artificial.
Apesar do cenário geopolítico desafiador, operadores econômicos russos e mexicanos estão se adaptando às novas condições e encontrando caminhos alternativos de interação. Isso é refletido em uma série de fóruns empresariais conjuntos já realizados e planejados, com múltiplas iniciativas e participação ativa das empresas de ambos os países, organizados pela Câmara de Comércio e Indústria da Rússia e de Moscou; pela União Russa de Representantes de Indústrias e Empresários; pela Fundação Roscongress; e pelas associações comerciais mexicanas, como a Câmara Nacional da Indústria de Transformação (CANACINTRA) ou a Confederação dos Produtores Nacionais do México (COPARMEX).
– Como a Rússia e o México apoiam o desenvolvimento de intercâmbios culturais e educacionais? Quais são exemplos de projetos específicos?
– Os intercâmbios culturais e educacionais são uma parte importante das relações bilaterais. Dentro do Comitê Intergovernamental de Cooperação Cultural, foi assinada uma programação até 2026, que inclui a troca de exposições, festivais e grupos artísticos. Delegações mexicanas participam ativamente de eventos russos, como o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, o Festival Mundial da Juventude e o Torneio Multiesportivo "Jogos do Futuro".
A cooperação interuniversitária também está em expansão, incluindo o intercâmbio de estudantes e professores. Em 2025, uma série de eventos será realizada para celebrar os 135 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Rússia e o México, o que destaca o caráter de longo prazo dos laços culturais.
– Que medidas podem ajudar a aumentar o comércio bilateral entre a Rússia e o México?
– Para aumentar o comércio bilateral, é necessário modernizar a infraestrutura de cooperação comercial e econômica, adaptando-a às realidades contemporâneas. Refiro-me, principalmente, ao desenvolvimento e lançamento de novos mecanismos de garantia que permitam superar o desajuste no sistema financeiro e logístico global causado pelas múltiplas sanções antirrussas impostas pelo Ocidente, e pela crescente tendência de protecionismo e políticas econômicas voluntaristas nos últimos anos. Apesar da recusa do México em se juntar a essas ações ilegais, elas de forma secundária ainda impõem restrições ao nosso comércio.
Uma das direções principais para superar essas dificuldades pode ser os esforços conjuntos para estabelecer novas cadeias logísticas e desenvolver sistemas de pagamentos em moedas nacionais. A recente inclusão do México na lista de países autorizados a negociar no mercado de câmbio russo cria uma base para o desenvolvimento de novos mecanismos de pagamento, permitindo diversificar os instrumentos financeiros e reduzir a dependência de moedas de países terceiros.
– Qual é o nível de interação do México com o BRICS? Há consultas sobre a possível participação do país nas atividades da associação?
– O México não participa do BRICS e, de acordo com declarações oficiais do governo mexicano, não há planos de o país aderir ao grupo. O México prefere construir suas prioridades comerciais e econômicas dentro do Acordo de Livre Comércio da América do Norte, cuja segunda edição foi assinada com os Estados Unidos e o Canadá em 2018 (NAFTA-2). A economia mexicana está completamente integrada ao sistema de relações desse acordo e, considerando sua importância para o país, é improvável que se desvie para outras estruturas de integração antes que o processo de revisão seja concluído.
Portanto, não há consultas com o BRICS como uma associação. No entanto, existem formas estreitas de cooperação com cada um dos países-membros. Há interesse em diversificar as relações econômicas externas, e talvez, em algum momento futuro, o México possa desenvolver um interesse mais substancial em relação ao BRICS.
– Existe potencial para iniciativas multilaterais entre a Rússia, o México e outros países da América Latina?
– Sim, existe um claro potencial para iniciativas multilaterais entre a Rússia, o México e outros países da América Latina. A América Latina, de maneira geral, busca diversificar seus parceiros comerciais e econômicos, e a Rússia, apesar das atuais restrições de sanções, continua estabelecendo relações com a região, com base em uma cooperação mutuamente benéfica. Algumas áreas promissoras incluem:
Agroindústria e segurança alimentar. A Rússia já fornece ativamente trigo para os países da região, incluindo o México. Iniciativas conjuntas podem incluir a criação de hubs logísticos regionais para o comércio de produtos agrícolas, além de investimentos em processamento e armazenamento de alimentos.
Energia e mineração. A Rússia possui tecnologias avançadas na exploração de petróleo, energia nuclear e processamento de lítio, que na América Latina (especialmente no México, Chile, Bolívia e Argentina) se tornam recursos estratégicos. Podem surgir projetos de desenvolvimento de minas de lítio com a participação de vários países da região.
Farmacêutica e saúde. Podem surgir projetos conjuntos para a produção de medicamentos e biotecnologia.
Tecnologias avançadas e inteligência artificial. A Rússia tem muito a oferecer aos parceiros latino-americanos nesta área. Os últimos contatos de negócios com o México, mencionados anteriormente, indicam um interesse prático, tanto nesse campo como em um contexto mais amplo e regional.
– Como eventos, como a premiação da TV BRICS no México, contribuem para o avanço do diálogo cultural entre os países?
– Eventos como a premiação da TV BRICS no concurso de jornalismo nacional e internacional no México desempenham um papel importante no fortalecimento do diálogo cultural. Eles criam uma plataforma para o intercâmbio de informações e experiências entre os países, promovendo a ampliação do entendimento mútuo. O reconhecimento da TV BRICS no México demonstra o interesse por mídias internacionais alternativas e ajuda a transmitir informações paralelas para o público em geral, fortalecendo a objetividade da percepção sobre o que acontece no mundo. Essas iniciativas também promovem o desenvolvimento de parcerias midiáticas e o fortalecimento das conexões humanitárias.
Fotografia: Ministério das Relações Exteriores da Rússia