Irmãos históricos: quão forte é o vínculo entre o português e o espanhol?
Criação dos idiomas
O vínculo entre o português e o espanhol remonta a uma língua única: a protorromânica – que é considerada o ancestral das línguas românicas e uma vertente do latim vulgar, falado na Península Ibérica. Foi somente no século X que as duas línguas começaram a se separar.
Victoria Kuznetsova, doutoranda em Ciências Históricas e professora adjunta do Departamento de Estudos Ibero-Americanos da Faculdade de Economia da Universidade Russa da Amizade dos Povos Patrice Lumumba (RUDN), em entrevista exclusiva para a TV BRICS falou sobre a relação das línguas difundidas na América Ibérica, África e Ásia.
"A divergência das línguas se intensificou quando Afonso Henriques se tornou o primeiro rei de Portugal em 1140, e o português começou a se formar a partir do galego. Em meados do século XIII, o rei Afonso X de Castela e Leão começou a usar o dialeto castelhano de maneira oficial", explicou a especialista.
Kuznetsova acrescentou que o resultado da expansão colonial das duas potências seria a disseminação do espanhol e do português na África, na Ásia e nas Américas; e o fato de que esses importantes idiomas internacionais são hoje falados por cerca de 850 milhões de pessoas em todo o mundo. De acordo com estudos da ONU, até meados do século XXI, o número de falantes combinados chegará a aproximadamente 1,2 bilhão.
Instauração dos idiomas
De acordo com a pesquisadora, a interação das línguas impulsionou posteriormente o lançamento de obras literárias épicas, como "Os Lusíadas", de Luís Vaz de Camões, e "Dom Quixote de la Mancha", de Miguel de Cervantes, em que se faz referência a personagens da literatura portuguesa de João de Lobeira e Vasca de Lobeira.
A relação entre as línguas também foi responsável por notáveis trabalhos nas artes, como a música, o cinema, o teatro. O contato espano-português também teve sua influência em sistemas políticos, econômicos e sociais, que ainda estão em desenvolvimento nos locais onde essas línguas foram estabelecidas.
"O colapso dos sistemas coloniais, o crescimento da consciência nacional e, ao mesmo tempo, a influência de novos centros de poder deram novos impulsos ao desenvolvimento de idiomas em Estados independentes", acrescentou Kuznetsova.
Crescimento do patrimônio e perspectivas internacionais
De acordo com a UNESCO, há mais de 265 milhões de falantes de português no mundo, enquanto há 599 milhões de falantes de espanhol, de acordo com dados de organizações oficiais da Espanha. O número de falantes e os países com esses idiomas tornam-se locais de oportunidade para preservar o patrimônio histórico, a diversidade e estimular o crescimento econômico entre as nações.
Um dos principais elementos é a comunidade ibero-americana de nações, que tem projetos de colaboração conjunta e iniciativas para expandir a propagação do idioma espanhol em diferentes países, como a abertura da Associação Nacional de Professores de Espanhol na Índia, que visa disseminar língua espanhola e promover a cultura dos países de língua espanhola em todo o país.
Da mesma forma, a incorporação de novos membros ao BRICS abre novas perspectivas para o desenvolvimento econômico e cultural dos países ibero-americanos, uma vez que vários líderes já expressaram interesse em fazer parte da associação, como é o caso da Bolívia, que, com o apoio do Brasil, manifestou sua intenção em se juntar ao grupo.
Além disso, outras nações, como a Venezuela e a Colômbia, também demosntraram interesse em ingressar no BRICS, o que implica não apenas um fator de desenvolvimento econômico, mas também um diálogo e um intercâmbio histórico do patrimônio e das riquezas culturais dos países.
Assim, os vínculos entre o português e o espanhol não se baseiam apenas em uma estrutura histórica, mas também em um diálogo no qual convergem elementos de valor cultural, político e econômico.
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