Membro do Conselho Empresarial do BRICS, Oleg Preksin: "A criação de um novo sistema de pagamento internacional está entre as prioridades da associação"
Oleg Preksin é vice-presidente do Conselho da União Financeira e Bancária da Rússia e do Conselho da Associação de Bancos da Rússia, vice-diretor do Conselho Financeiro Russo-Chinês e membro do Grupo de Trabalho do Setor Financeiro do Conselho Empresarial do BRICS. Ele se formou no Instituto de Finanças de Moscou, trabalhou nas esferas bancária, analítica e administrativa na Rússia e no exterior, e ocupou cargos dirigentes em bancos nacionais e estrangeiros.
— Como você caracterizaria a cooperação dos países do BRICS na esfera financeira e econômica?
A principal conquista nessa área atualmente é a criação do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS (NBD). Ele foi criado com um capital de US$ 100 bilhões (R$ 600 bilhões), e o capital integralizado totalizou US$ 50 bilhões(R$ 300 bilhões). A carteira total de empréstimos do banco é de cerca de US$ 30 bilhões (R$ 180 bilhões). As principais conquistas dos BRICS na esfera financeira e econômica também incluem o Acordo do Arranjo Contingente de Reservas, criado para apoiar a taxa de câmbio das moedas dos BRICS. Enquanto no caso do NBD o princípio da participação igualitária funciona: cada parte tinha US$ 20 bilhões (R$ 120 bilhões) no capital autorizado, no Arranjo Contingente de Reservas a proporção foi definida levando em conta o desempenho econômico dos países do BRICS. A maior parte é detida pela China, que responde por US$ 41 bilhões (R$ 246 bilhões) de um total de US$ 100 bilhões (R$ 600 bilhões). Rússia, Índia e Brasil têm US$ 18 bilhões (R$ 108 bilhões) cada e a África do Sul tem US$ 5 bilhões (R$ 30 bilhões).
— Com quais países do BRICS a Rússia tem um sistema bem estabelecido de liquidações em moedas nacionais e onde ainda há trabalho a ser feito?
A cooperação mais produtiva nessa área é com a China, pois as economias russa e chinesa são complementares. Também é necessário chegar a um sistema harmonizado de liquidações multilaterais. No ano passado, na cúpula de Joanesburgo, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva propôs o desenvolvimento de uma unidade de conta comum, sobre a qual ele falou novamente durante a cúpula em Kazan. É importante observar que o Brasil ocupa a presidência do BRICS depois da Rússia. Portanto, não é de se excluir que tenhamos notícias interessantes nesse sentido. Um dos tópicos de nosso trabalho com nossos colegas é o projeto BRICS Pay, um sistema em que as liquidações com o comprador e o vendedor são feitas em moedas nacionais. Também há planos para criar um BRICS Bridge para liquidações entre os bancos dos membros da associação.
— Com qual dos parceiros seria mais conveniente desenvolver esses sistemas?
Já estabelecemos relações comerciais estreitas com nossos parceiros da Índia por meio do Conselho Empresarial do BRICS. A propósito, o lado indiano está promovendo muito ativamente sua plataforma de pagamento nacional, que foi mencionada na cúpula em Kazan pelo primeiro-ministro da Índia Narendra Modi. Uma das soluções pode ser a transferência de sistemas nacionais para uso conjunto. A formação de um novo sistema de pagamento internacional está entre as principais áreas de trabalho do Conselho Empresarial do BRICS. As primeiras medidas práticas também podem ser tomadas em cooperação com os países candidatos a parceiros do BRICS, incluindo os colegas da União Econômica Eurasiática (UEE), onde a integração financeira é identificada como uma das áreas mais importantes de colaboração.
— Qual será a rapidez com que os países parceiros poderão se envolver no trabalho de formação de novas plataformas e no sistema de acordos mútuos?
A conexão com esse projeto será de várias velocidades. Isso se tornou visível após a expansão do BRICS. O Irã está se integrando de forma bastante ativa. O Egito está mostrando alguma atividade. Acredito que os parceiros da UEE poderão participar do trabalho conjunto rapidamente, pois já têm alguns acordos com outros países do BRICS. Além disso, há questões que são igualmente relevantes para os participantes de ambas as associações.
— Que medidas devem ser tomadas para intensificar o comércio internacional?
Eu destacaria três direções. A primeira é a expansão das relações interbancárias. O segundo tópico importante é o desenvolvimento da parceria público-privada e do cofinanciamento. A participação do governo pode simplificar tanto a captação de recursos quanto a compra de mercadorias. Ao mesmo tempo, estamos falando em apoiar tanto as empresas voltadas para a exportação quanto os importadores. A terceira solução é criar bolsas de mercadorias. Em particular, na cúpula em Kazan, foi anunciado que seria aconselhável desenvolver uma bolsa de grãos do BRICS. Os países da associação têm as maiores reservas minerais do mundo. Além dos grãos, é possível lançar projetos semelhantes no campo do comércio de petróleo, metais e fertilizantes.
— É possível que os BRICS emitam sua própria moeda? Quanto tempo levará para criá-la? Com o que ela pode ser apoiada?
De um ponto de vista técnico, a questão da criação desse instrumento não é tão complicada. De qualquer forma, o caminho para uma moeda comum do BRICS passará pela adoção de uma unidade de conta comum. Como um dos principais defensores de sua introdução é Lula da Silva, o surgimento de uma unidade de conta pode acontecer rapidamente. Gostaria de enfatizar que essa decisão não limita os direitos dos bancos centrais nacionais, pois todo o aparato de pagamento doméstico e a emissão continuam sob o controle dos Estados. Não estamos falando da eliminação de yuans chineses, rúpias indianas, reais brasileiros e rublos russos.
Pela primeira vez, esse sistema funcionou dentro da estrutura do Conselho de Assistência Econômica Mútua (uma associação de países socialistas) em 1964. Naquela época, foi criado o Banco Internacional de Cooperação Econômica e foram lançadas as liquidações em rublos transferíveis. Esse mecanismo existiu até 1991. Quaisquer produtos de câmbio podem ser usados como garantia para a unidade de conta por acordo mútuo. Com o uso da cadeia de blocos, ficará claro onde cada unidade é emitida e qual país é responsável pela emissão.
— O BRICS se expandirá, o interesse por essa associação está crescendo. Nesse contexto, a questão dos recursos humanos não deve ser esquecida. O que é necessário para formar bons especialistas em economia e finanças?
É importante que os alunos aprendam sobre a existência de associações como BRICS, União Econômica Eurasiática, Comunidade dos Estados Independentes,
Organização para Cooperação de Xangai e Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, suas atividades, organização e áreas de cooperação enquanto ainda estão estudando. O conhecimento detalhado do trabalho dessas organizações pode influenciar a escolha da carreira. Portanto, a introdução de um curso especial sobre organizações internacionais e a participação da Rússia nelas poderia ser muito útil. Também é possível criar laboratórios práticos onde os alunos possam desenvolver seus projetos sob a orientação não apenas de professores, mas também de representantes das organizações e empresas para as quais as universidades treinam funcionários.
Você pode conferir a entrevista completa aqui.
Fotografia: TV BRICS