Pavel Knyazev: BRICS é um formato único de cooperação entre estados

Pavel Knyazev é um diplomata russo com grande experiência, cujo registro de serviço inclui o serviço no Conselho de Segurança da ONU e em outras organizações internacionais. Atualmente, ele está envolvido na participação da Rússia no BRICS e no desenvolvimento de laços com seus parceiros de países em desenvolvimento no formato "BRICS+". Pavel Knyazev é o Sous-Sherpa da Rússia no BRICS.

Em uma entrevista exclusiva à TV BRICS, o diplomata falou sobre o trabalho dentro do grupo BRICS que está sendo realizado para sua potencial expansão, as tarefas imediatas do grupo e as vantagens do grupo dos 'Cinco'.

É possível que, em um futuro próximo, deixemos de dizer "Cinco" e busquemos uma nova formulação. Argélia, Egito, Irã, Indonésia, Arábia Saudita e outros já demonstraram interesse em fazer parte do BRICS. Talvez esse não seja o limite. Como você avalia as perspectivas de expansão do grupo dos 'Cinco'? Quais são seus possíveis benefícios?

Acredito que o movimento em direção à expansão do BRICS é um processo objetivo. Contra o pano de fundo dos desafios geopolíticos de grande escala e das mudanças dramáticas que estão ocorrendo no mundo de hoje, o número de pessoas que desejam se juntar aos 'Cinco' está crescendo constantemente. Cada um dos países candidatos vê seu próprio interesse prático aqui, e essa não é apenas uma oportunidade de aumentar a cooperação econômica. Um fator importante é o desejo dos países de obter igualdade soberana, aumentar seu papel na arena internacional e garantir a segurança energética e alimentar.

O modelo unipolar está se tornando uma coisa do passado. Na Ásia, na África e na América Latina, estão surgindo novos centros de poder que adotam políticas externas independentes e estão prontos para defender seus interesses nacionais. É por isso que o anúncio, em 2022, em uma discussão revigorada sobre a expansão da associação gerou uma forte resposta positiva no mundo em desenvolvimento. O BRICS é visto como um dos pilares de uma nova ordem mundial mais justa porque oferece ao mundo iniciativas criativas, unificadoras e orientadas para o futuro. Não devemos nos esquecer de que a associação tem um enorme potencial para o desenvolvimento da interação em uma ampla gama de áreas.

No momento, há discussões ativas dentro do grupo dos 'Cinco' para determinar os critérios e outras modalidades para a expansão do BRICS. A presidência sul-africana pretende fazer um progresso substancial até a cúpula de Joanesburgo, em agosto. Nós promoveremos isso ativamente. As questões de admissão de novos estados exigem uma análise cuidadosa e um trabalho interno delicado por parte do grupo dos 'Cinco' para chegar a um consenso.

Gostaria de enfatizar mais uma vez que a Rússia tem defendido consistentemente o aprofundamento do envolvimento do BRICS com os países em desenvolvimento. Mecanismos de cooperação de parceria 'outreach/BRICS+' já foram estabelecidos dentro da associação, o que possibilita a formação de um círculo estável de amigos da associação. Um exemplo ilustrativo a esse respeito foi o diálogo de alto nível sobre desenvolvimento que ocorreu durante a cúpula do BRICS em junho de 2022, que contou com a participação dos líderes de 13 países convidados do Sul global. O desenvolvimento do formato 'outreach/BRICS+' é uma de nossas prioridades. Estamos confiantes de que essa prática contribuirá para unir os esforços da maioria mundial na abordagem de problemas de desenvolvimento comuns ou semelhantes e na superação dos atuais desafios comerciais e econômicos.

Com qual dos países que desejam fazer parte do BRICS você acha que a cooperação do bloco é mais promissora? Ou será que cada um desses países pode fazer sua própria contribuição significativa para o desenvolvimento da associação?

Todos esses países desempenham um papel muito importante em suas regiões e no cenário internacional em geral. Todos eles têm um potencial econômico considerável e uma cultura rica. O mais importante é que eles buscam seguir uma política externa soberana e estão comprometidos com o objetivo de construir uma ordem mundial mais justa e multipolar, baseada no respeito mútuo e levando em conta os interesses legítimos de todas as partes da comunicação internacional.

Temos certeza de que todos eles poderiam contribuir para o desenvolvimento da cooperação do BRICS. Mas eu não gostaria de ir muito longe, pois todas as decisões da associação são tomadas exclusivamente por consenso. Vou enfatizar mais uma vez: todos os países que declararam interesse em participar no BRICS são estados respeitáveis e candidatos dignos.

Autoridades e diplomatas russos têm enfatizado repetidamente que aumentar o número de membros do BRICS não é uma prioridade, pois o mais importante é a qualidade e não a quantidade. Qual é, então, a tarefa prioritária para a associação agora? Ou qual deveria ser a prioridade?

A questão da expansão é, sem dúvida, importante, mas as tarefas de fortalecer a parceria estratégica dentro da associação, aumentar sua autoridade internacional e influenciar os processos de tomada de decisão sobre questões globais atuais também são prioritárias.

Pretendemos continuar a trabalhar de forma consistente para aumentar o impacto prático dos mecanismos de trabalho a fim de melhorar a vida dos cidadãos de nossos países. Não estamos buscando resultados rápidos ou de curto prazo. Como disse o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, "não deve haver emoções excessivas, só precisamos trabalhar e fazer nosso trabalho".

Ainda há muito a ser feito em termos de fortalecimento do diálogo político, especialmente em termos de aumento do nível de coordenação dos países do BRICS em plataformas internacionais. Nesse contexto, as sucessivas presidências da Índia, do Brasil e da África do Sul no G20 (Índia em 2023, Brasil em 2024 e África do Sul em 2025) oferecem uma oportunidade única. Há também um amplo campo para o trabalho conjunto na ONU.

Continuaremos a desenvolver a cooperação por meio de altos representantes dos países do BRICS encarregados de questões de segurança, ministros das Relações Exteriores.

A cooperação econômica tem um grande potencial. Aqui, entre as áreas prioritárias, destacamos a implementação prática da Estratégia de Parceria Econômica até 2025, que foi adotada em 2020. Consideramos a economia digital, a agricultura, o transporte e a introdução de tecnologias avançadas nos processos de produção, como inteligência artificial e dados grandes, como áreas promissoras para nossos esforços. Estão sendo discutidos planos para dar ao Acordo de Reserva Contingente do BRICS a autoridade para usar moedas alternativas ao dólar americano. Um acordo sobre assistência administrativa mútua em questões alfandegárias está sendo preparado para ser assinado pelos países do grupo dos 'Cinco'.

Estamos determinados a desenvolver a cooperação no campo da energia, incluindo o formato da Plataforma de Pesquisa Energética do BRICS. Tenho certeza de que a implementação das iniciativas russas para criar um centro de competências industriais do BRICS, um centro de turismo internacional, um centro de arbitragem e a plataforma geológica do grupo dos 'Cinco' terá um valor agregado significativo.

Muitos especialistas, incluindo os internacionais, têm enfatizado repetidamente que as vantagens do BRICS são a flexibilidade em vez de uma estrutura rígida e a cooperação mutuamente benéfica de todos os países entre si. E o que o senhor vê como singularidade e vantagens do grupo dos 'Cinco'?

O BRICS como um formato de cooperação entre estados é realmente único. Em primeiro lugar, porque ele se baseia em um compromisso compartilhado com os valores do diálogo e da cooperação equitativos e na atração mútua de civilizações originais que representam diferentes regiões do planeta.

Ao mesmo tempo, é importante entender que nossa associação não é uma associação de integração, ou seja, não visa à formação de um espaço econômico único com normas unificadas nas esferas financeira, econômica, migratória e outras. O BRICS é uma parceria estratégica multifacetada, uma plataforma necessária para a convergência de posições em uma ampla gama de diálogos interestatais. Em outras palavras, é um formato muito democrático, no qual ninguém impõe nada a ninguém. "O grupo dos 'Cinco' está unido por uma agenda positiva que visa a criar condições econômicas e políticas favoráveis para o desenvolvimento interno de nossos países. E essa também é a força e o apelo do BRICS.

Fotografia: istockphoto.com, departamento BRICS do Ministério das Relações Exteriores da Rússia