Onde foram encontradas as ossadas humanas mais antigas? - Anna Larina
A África é considerada o berço e a pátria histórica da humanidade.
Foi na África Oriental que surgiu o primeiro membro do gênero Homo habilis (homem habilidoso). Apesar disso, poucos sepultamentos humanos foram encontrados no continente, e todos os restos mortais datam de não mais do que 30.000 anos atrás. Enquanto na Europa e na Ásia existem ossadas de Neandertais que datam de 120 mil anos atrás. Isto se deve ao fato de que a África foi muito menos estudada pelos arqueólogos do que a Eurásia.
Mas em 5 de maio de 2021, foi feita uma descoberta crucial: arqueólogos descobriram um local de sepultamento de 78.000 anos, do paleolítico médio. Os restos mortais foram reconhecidos como o mais antigo exemplo de sepultamento humano até hoje no continente africano. A ossada foi encontrada no que é hoje o Quênia, na entrada da caverna Panga ya Saidi.
Em 2017, os restos ósseos foram encontrados numa cavidade da caverna, mas devido ao seu estado frágil e deteriorado, decidiu-se preservá-los e movê-los para o Centro Nacional de Estudos da Evolução Humana.
Os ossos pertenceram a uma criança de cerca de 3 anos de idade, como confirmaram as análises microscópicas dos ossos e dentes. Não foi possível determinar o sexo da criança porque não se preservaram fragmentos de DNA, necessários para uma análise conclusiva, não sendo possível fazer inferências sobre o sexo da criança com base nos dados disponíveis.
Os pesquisadores chamaram o bebê de Mtoto, uma palavra swahili que significa "criança". A criança foi enterrada na caverna, envolta em uma mortalha (não restaram vestígios do tecido). Uma almofada ou apoio foi colocada sob a cabeça, e o corpo foi coberto com peles de animais.
O ritual de sepultamento descrito pelos pesquisadores mostra a grande importância que era dada à questão da morte.
As práticas de sepultamento são extremamente interessantes de serem estudadas. A atitude ante os mortos e os rituais de sepultamento são um reflexo do nível cultural de uma sociedade. Ao estudar os ritos de sepultamento, os arqueólogos podem reconstruir a pirâmide etária e de gênero de uma sociedade, a estrutura de casamentos e relações familiares, aprender sobre as crenças daquelas pessoas sobre o além e até mesmo sobre a prevalência de doenças e a longevidade dessas antigas populações.
Elas ajudam a aprender mais sobre a visão de mundo daquelas pessoas e a transformação desta ao longo do tempo.
Portanto, a descoberta do pequeno Mtoto é extremamente importante para a ciência: nunca foram encontradas no território da África antes tantos sepultamentos antigos. Será esta descoberta seguida por outras, fornecendo assim novas camadas de informações sobre o passado distante?
Anna Larina, historiadora especialista