Arte da Joalheria Indiana: brilho da história e alma da cultura
Imagine segurar um colar dourado ornamentado com rubis. Cada pedra não é apenas uma decoração, mas um elo com o passado que atravessa os séculos.
As joias indianas são testemunhas de uma história rica, feitas de ouro, prata e pedras preciosas. Elas contam histórias sobre deuses, reis, amor e luta, e carregam tradições que continuam vivas até hoje. Vamos explorar a história da arte da joalheria da Índia e entender seu papel fundamental na cultura do país.
Origens: primeiros adornos
A Índia é um dos berços da joalheria. As primeiras descobertas datam da civilização Harappa, cerca de 3300-1300 a.C., onde arqueólogos encontraram pulseiras de conchas, contas de ágata e até brincos de ouro na cidade de Mohenjo-Daro. Essas peças não eram apenas decorativas, mas também amuletos de proteção. Por exemplo, as pulseiras eram usadas para afastar maus espíritos, e os anéis com selos serviam como assinatura pessoal.
Os materiais usados nas joias não tinham apenas valor estético, mas também simbólico.
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O ouro representava os deuses, o sol e a imortalidade, mencionado no Livro dos Hinos (Rigueveda).
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A prata simbolizava a pureza e a luz da lua.
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As pedras preciosas, como rubis e esmeraldas, eram consideradas "gotas de sangue da terra" e eram usadas em rituais.
É interessante que, mesmo naquela época, os artistas já dominavam técnicas refinadas, como a criação de desenhos com minúsculas esferas de ouro — a granulação.
Estilos que conquistaram o mundo
A Índia, com sua rica diversidade, também possui uma vasta tradição joalheira. Três estilos principais continuam a inspirar mestres contemporâneos.
Luxo mogol: quando o joalheiro é um poeta
Entre os séculos XVI e XIX, sob o Império Mughal, a arte da joalheria alcançou novas alturas. Imagine pingentes de esmeraldas do tamanho de ovos de pombo, diamantes lapidados como pétalas e colares de ouro adornados com rubis.
Qual é o legado dos mongóis?
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Eles ficaram conhecidos pela técnica kundan, em que as pedras preciosas são embutidas em folhas finas de ouro, criando o efeito das pedras "flutuantes".

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A minakari é a pintura esmaltada, em que cada cor tem um significado próprio (azul - céu, verde - vida).

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Também havia o sarpech, um pente de turbante usado por homens. Acreditava-se que quanto maior fosse o sarpech, mais alto era o status da pessoa.

Sul da Índia: deuses, ouro e geometria
No sul, em estados como Tamil Nadu, as joias sempre foram grandes e simbólicas. Nessa região, ainda é comum o uso do vaddanam, um cinto de ouro tradicional decorado com esculturas, pedras preciosas, como rubis, e ornamentos intrincados.
O estilo local também se caracteriza pela técnica da tempera, fundição em modelo de cera, amplamente utilizada para criar braceletes expressivos e volumosos.
Joias tribais: magia da simplicidade
As joias tribais da Índia seguem seus próprios códigos. Por exemplo, as mulheres de Kerala usam colares de prata com moedas, enquanto as de Rajastão preferem joias de ouro e vidro. Essas joias funcionavam como amuletos e protegiam seus donos, além de representar o status social.
Por que isso é importante? Em primeiro lugar, as joias possuíam um profundo significado sagrado. Em segundo lugar, a quantidade e o tamanho das joias indicavam a posição social da família, e as peças eram consideradas um investimento seguro. Por fim, simbolizavam a beleza e as bênçãos da deusa Lakshmi.
O shringar, o conjunto tradicional de joias para mulheres indianas, inclui 16 peças associadas às fases da lua.
Linguagem silenciosa dos símbolos
Na Índia, as joias são uma linguagem própria. Elas podem indicar o estado civil, as crenças religiosas e até a sorte astrológica de uma pessoa. Entre as peças mais emblemáticas estão:
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Mangalsutra: um colar de ouro com contas negras, equivalente ao anel de casamento, que, segundo a crença, protege o marido da morte.
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Nath: anel no nariz, que indica que a mulher é casada.

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Payal: uma pulseira de tornozelo, cujo som afasta maus espíritos e lembra o marido da presença da esposa.
As cores também têm um significado especial. O vermelho, em rubis ou corais, simboliza paixão e casamento. O verde, associado às esmeraldas, representa vida, natureza e felicidade interior. O amarelo, presente no ouro, é ligado ao conhecimento e aos deuses hindus.
Arte nos detalhes: materiais e técnicas
A Índia continua a valorizar o trabalho artesanal, transmitido de geração em geração. É aqui que está a magia do artesanato.
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O ouro e a prata são os principais materiais, usados predominantemente no sul e nas regiões do Himalaia, respectivamente.
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Pedras preciosas como rubis de Mianmar, safiras de Caxemira e diamantes da lendária Golconda, os mesmos que em tempos adornaram a coroa da Rainha do Reino Unido, são tesouros genuínos.
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Além disso, materiais inusitados, como vidro colorido, conchas marinhas e sementes de plantas, são usados para criar peças únicas. Em algumas regiões, os sinos eram pendurados nas crianças para afastar os maus espíritos.
As técnicas que resistiram ao tempo continuam a fascinar pela sofisticação. A filigrana, ou tarakashi, cria desenhos requintados a partir dos fios de prata mais finos. A gravação adiciona profundidade e simbolismo às joias, com imagens em relevo de deuses nas pulseiras. Já o esmalte minakari pintado dá vida ao metal com cores vibrantes.
Legado cultural: o que resta no século XXI?
Hoje, as joias indianas não são apenas uma tradição, mas também um grande negócio. No entanto, a produção em massa está gradualmente substituindo a arte feita à mão, tornando cada vez mais difícil encontrar artistas que criem peças como o kundan, típico da era Mogol.
Museus estão sendo inaugurados para preservar esse rico legado, como um dedicado à técnica minakari em Jaipur. Também ocorrem festivais no Rajastão em que artesãos competem para dominar as antigas habilidades.
Além disso, estilistas renomados, como Sabyasachi Mukherjee, Ritu Kumar e J.J. Valaya, continuam a incorporar desenhos e técnicas tradicionais em suas coleções contemporâneas.
Por que isso importa?
As joias indianas não são apenas do passado; são uma tradição viva que evolui sem desaparecer. Quando uma noiva indiana usa um maang tikka (tiara de testa), ela se conecta com gerações de mulheres antes dela. Cada peça é uma ponte entre antigos rituais e a estética moderna.
Por exemplo, no maior evento de moda deste ano, o cantor e ator indiano Diljit Dosanjh apareceu com um traje real tradicional, complementado por um colar de várias camadas de pedras preciosas e uma esmeralda deslumbrante no centro. O visual foi inspirado no Maharaja Bhupinder Singh, o lendário governante do Principado de Patiala.
Como disse o poeta indiano Rabindranath Tagore: "Na Índia, a arte é uma oração voltada para a beleza". Os joalheiros ainda rezam com as mãos, criando não apenas peças, mas um legado que resiste ao tempo. Essa é a magia da Índia.
Quer conhecer essa magia? Visite os bairros étnicos de Nova Délhi ou Jaipur, onde ainda se fazem joias tanto para reis quanto para nós.
O material foi fornecido por Evguenia Khrenova, membra do projeto BRICS Bloggers Team e residente do Centro de Novas Mídias.
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