África do Sul teme mais isolamento do que variante
Entre os sul-africanos, a cepa ômicron do coronavírus parece assustar menos que suas possíveis consequências: isolamento, discriminação e crise econômica.A praça Greenmarket, no centro da Cidade do Cabo, é um termômetro para o setor de turismo desde o início da pandemia. Antes da covid-19, costumava estar lotada de turistas e barracas de souvenir. Depois, ficou vazia durante quase um ano. Agora, está bem cheia novamente. Tambores, entalhes em madeira, quadros coloridos. Mas o humor dos comerciantes está de volta ao chão.
"Na semana passada os alemães ainda estavam aqui", diz uma congolesa vendendo bolsas, colares e camisetas. "Agora eles estão voltando para casa porque têm medo de ficar retidos aqui. A economia está em baixa. Sem clientes, não há negócios".
"O que meus filhos vão comer?"
As notícias sobre a nova variante ômicron se espalharam rapidamente. Mas aqui a nova cepa em si parece não assustar ninguém, mas, sim, as suas consequências. "Vivo deste negócio - sem isso, não posso alimentar minha família", diz um vendedor do Malauí. "Estou preocupado - o que meus filhos e minha família vão comer"?
Em questão de dias após a detecção da variante na África do Sul, parte do mundo se fechou: UE, EUA, Israel, Brasil, Cingapura, Ilhas Maurício e dezenas de países impuseram restrições a viajantes provenientes do sul da África.
A variante é a primeira desde a detecção da delta, há cerca de um ano, a ganhar da Organização Mundial da Saúde (OMS) o rótulo de "variante de preocupação”, sua categoria mais elevada.
A designação significa que a variante tem mutações que podem torná-la mais contagiosa ou mais virulenta, ou tornar as vacinas e outras medidas preventivas menos eficazes. Vários países da Europa já detectaram casos.
"No momento, não temos evidências de pacientes ou de estudos de laboratório sobre o que estas mutações fazem", diz Wolfgang Preiser, virologista da Universidade de Stellenbosch. "Mas como conhecemos algumas mutações de outras variantes, podemos prever algo: há uma preocupação de que este vírus possa escapar do sistema imunológico. Isso significa que pode infectar pessoas que já foram infectadas antes. Possivelmente até mesmo pessoas vacinadas. E parece altamente transmissível".
Repique de casos
A vida na África do Sul quase voltou ao normal nas últimas semanas. Com baixos índices de infecção, muitos turistas retornaram ao país. Mas nos últimos dias, o número de infecções aumentou - de cerca de 100 por dia, no início de novembro, para mais de 2.500 novas infecções. É o início da quarta onda na África do Sul.
Se o aumento é devido à nova variante ainda não está claro. Preiser pensa que é provável. Especialmente na região de Gauteng, ao redor das cidades de Joanesburgo e Pretória, o número de casos está aumentando, adverte o ministro da Saúde da África do Sul, Joseph Phaahla.
"Se as pessoas viajarem mais nas próximas semanas, a variante estará em todos os lugares", diz Phaahla. Ele considera os bloqueios de outros países à África do Sul injustificados e afirma que tais medidas são contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde.