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Sociedade

Diretora do Departamento Eficiência Energética do Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia, Irina Petrunina: "A Rússia trabalha intensamente com os países do BRICS na área da transição energética"

Em entrevista exclusiva à TV BRICS, a especialista abordou o tema da política climática da Rússia e a cooperação com estruturas internacionais

Irina Petrunina ocupa o cargo de diretora do Departamento de Concorrência, Eficiência Energética e Ecologia do Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia desde 2022. Ela se formou no Instituto Pedagógico Estadual de Moscou e realizou um estágio na Academia Russa de Administração Pública sob a Presidência da Rússia.

Entre 1991 e 2019, ocupou cargos na área da educação – de vice-diretora de escola a vice-diretora do Departamento de Política Estatal na Área de Educação, Educação Complementar e Recreação Infantil do Ministério da Educação da Rússia. É considerada Trabalhadora Honorária da Educação Geral da Rússia.

– Qual é a importância da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas e quais são as tarefas mais relevantes no âmbito dessa convenção atualmente?

– A convenção para combater as mudanças climáticas é uma excelente plataforma internacional sob os auspícios da ONU, em que os países podem chegar a um consenso sobre a forma como se desenvolver, considerando que é necessário, por um lado, desacelerar as mudanças climáticas e, por outro, adaptar-se a elas. Por exemplo, em 2023, em Dubai, houve uma avaliação global, e nessa plataforma a Rússia conseguiu defender a posição da energia nuclear como uma fonte de energia livre de carbono e do gás natural como um combustível de transição dos hidrocarbonetos mais pesados, como o petróleo, para uma energia mais leve e verde.

Em 2024, discutiu-se o tema do financiamento: 300 bilhões de dólares por ano (cerca de R$ 1,8 trilhão). Esse é o valor que os países desenvolvidos devem fornecer aos países em desenvolvimento para o crescimento de suas economias, de modo que não sofram com as tecnologias utilizadas para limitar as emissões de gases de efeito estufa. Em 2025, no Brasil, discutiremos como nos adaptar às mudanças climáticas.

– Como as mudanças climáticas impactam a economia da Rússia? Quais setores estão lidando com isso atualmente e que medidas estão sendo tomadas? Essas medidas são suficientes?

– Por um lado, as mudanças climáticas levam ao aumento do consumo de energia para aquecer os espaços, garantindo conforto para as pessoas e o desenvolvimento da economia. Por outro lado, setores como agricultura e silvicultura têm se beneficiado das mudanças climáticas. Outro ponto é que a Rota Marítima do Norte, uma importante artéria de transporte, está se tornando mais acessível devido ao aquecimento global.

Há uma necessidade de ajustar abordagens em setores como o da construção civil, pois o derretimento do permafrost apresenta desafios. Estamos avaliando esses processos, mas precisamos alterar os requisitos tecnológicos. Estamos adotando uma abordagem sistemática, com planos multiescalonados de adaptação às mudanças climáticas.

– O setor privado e o governo cooperam para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera? Como isso é realizado?

– Essa cooperação é parte da política estatal, para a qual temos formatos de regulamentação de carbono. O governo permite que as empresas implementem projetos climáticos. Esses projetos são ações de empresas voltadas para a redução de emissões de gases de efeito estufa ou, por exemplo, para o plantio de árvores. Como Ministério do Desenvolvimento Econômico e regulador [da Rússia], criamos, nos últimos dois anos, quase toda a arquitetura normativa e jurídica para a implementação desses projetos.

– Como funciona o mercado de unidades de carbono? Quais projetos internacionais nesse campo são promissores?

– Primeiro, é necessário ter uma base normativa e jurídica, que criamos para que esses projetos climáticos existam fisicamente. Foi preciso desenvolver critérios para esses projetos e criar um sistema que os avaliasse. Isso envolve pessoas específicas, uma organização concreta e metodologias únicas que precisam ser devidamente estabelecidas. Temos um registro desses projetos climáticos e um registro de unidades de carbono. Depois, essas unidades podem ser comercializadas ou usadas para compensar a pegada de carbono dos produtos da mesma organização que as criou.

– Há resultados concretos da atuação desse mercado?

– O mercado ainda está em desenvolvimento, mas, nos últimos dois anos, já registramos 40 projetos. Isso representa mais de 30 milhões de unidades de carbono emitidas, das quais algumas já foram comercializadas.

– A Rússia é pioneira nessa área ou essa experiência foi adaptada de outros parceiros, como a OCX [Organização para Cooperação de Xangai] ou o BRICS?

– Atualmente, estamos estabelecendo interações desse tipo com organizações como a OCX [Organização para Cooperação de Xangai], os países-membros do BRICS e a União Econômica Eurasiática [UEE]. Aqui, são necessárias informações científicas confiáveis que, por um lado, nos permitam avaliar projetos climáticos e, por outro, fortaleçam nossa posição em plataformas internacionais. Graças à implementação de projetos inovadores de importância estatal, criamos nosso próprio sistema de monitoramento de substâncias ativas no clima e já podemos usar esses resultados e compartilhá-los com parceiros de outros países.

– Como foi criado o cadastro nacional de impacto antropogênico? Ele foi desenvolvido com base em alguma tecnologia soberana? Qual é a sua particularidade?

– O Cadastro Nacional de Emissões Antropogênicas de Gases de Efeito Estufa é uma forma de relatório internacional, compromisso assumido pela Rússia ao assinar o Acordo de Paris. Essencialmente, fala-se do desenvolvimento de um sistema de cálculo soberano para absorção e emissões de gases de efeito estufa. Nos últimos dois anos, ajustamos significativamente os dados que antes fornecíamos como relatórios no âmbito da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas e do Acordo de Paris. Demonstramos que a capacidade de absorção dos ecossistemas russos – florestas, pântanos e áreas com baixa densidade de vegetação – é significativamente maior do que se considerava anteriormente com base em métodos internacionais. Revisamos nossos dados retroativamente.

– Fale sobre o experimento de Sacalina para limitar as emissões de gases de efeito estufa. Quais resultados já foram alcançados, e os objetivos mudaram com base nos resultados intermediários?

– O experimento visa tornar a região de Sacalina neutra em carbono até 2025. Estamos experimentando a alocação de cotas de emissões para empresas. 35 entidades jurídicas comerciais participam do projeto. Após os cálculos, distribuímos cotas para essas organizações. Se uma empresa emitir mais do que sua cota, ela terá duas opções: compensar comprando unidades de carbono ou pagar uma multa caso não o faça. Para nós, como ministério, é importante observar como esse processo se desenrola, como essa tecnologia será utilizada e quais desafios podemos enfrentar. Esse é o objetivo do experimento.

Recebemos muitos pedidos para expandir o experimento de Sacalina para outras regiões da Rússia. No entanto, estamos avançando com cautela, mas algumas regiões já estão implementando medidas semelhantes por conta própria, como a conversão de transporte público de diesel para gás ou gasolina.

– Como você avalia o atual nível de cooperação internacional em combate às mudanças climáticas com organizações como a OCX ou a Associação de Nações do Sudeste Asiático [ASEAN]?

– Em primeiro lugar, nossos planos se concentram na harmonização e interconexão dos mercados de unidades de carbono. A conferência realizada este ano em Baku [no Azerbaijão] contribuiu significativamente para esse processo, pois finalmente houve um acordo sobre como podemos negociar unidades de carbono transnacionalmente. O segundo aspecto são as medidas de adaptação. O terceiro envolve o intercâmbio de dados, especialmente científicos. A Rússia está aberta, já que nossa base científica é uma das mais fortes do mundo, e podemos compartilhar avanços com nossos vizinhos, tanto em relação às mudanças climáticas quanto às medidas de adaptação.

– Como está sendo realizada a troca de experiências com os países do BRICS no âmbito da transição energética e combate às emissões de gases de efeito estufa?

– O trabalho com os países do BRICS está cada vez mais intenso. Considerando a presidência da Rússia no BRICS em 2024, muitas iniciativas já foram realizadas. Criamos uma plataforma para troca de dados científicos e resultados diversos. O comércio transnacional de unidades de carbono também é uma boa iniciativa. É um processo correto, e estamos desenvolvendo mais mercados com os países do BRICS.

No campo energético, com foco em fontes verdes e renováveis, temos experiência e capacidade para estabelecer nossa própria produção tecnológica. Existem várias formas de cooperação com os países-membros do BRICS, e todas elas estão mapeadas nos projetos que assinamos conjuntamente.

Confira a entrevista completa aqui.

Fotografia: TV BRICS

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